Saúde para Quem? Explorando as Disparidades na Assistência Médica

Existe um impacto muito grande na condição social de acesso e as questões passam por quanto o serviço é oferecido

Vitor Amoroso
5 min readNov 12, 2023

A desigualdade na área da Saúde é um tema sensível que pode e deve ser abordado e combatido tanto por profissionais da área quanto por pacientes. É um problema que afeta diversas camadas sociais. Quando não se há igualdade, principalmente quando falamos de um grupo específico minoritário, não pode haver saúde. A saúde está diretamente ligada ao acolhimento e à humanização do paciente, tratando-os com a maior responsabilidade social possível, jamais invalidando sua existência ou suas dores. Profissionais da área da saúde, principalmente os do SUS, devem reconhecer e defender a diversidade do povo, sem distinção de idade, etnia, gênero, religião ou orientação sexual. As desigualdades são reflexos principalmente das diferenças no desenvolvimento econômico e social no país. Problemas gerados com base nos reflexos da história, do ambiente socioeconômico e político, podendo variar de país para país.

Neste estudo de caso gostaria de me limitar especificamente aos grupos minoritários como a comunidade negra periférica, portadores de deficiência e a comunidade LGBTQIA+. É consenso de que há diferenças na agilidade e em alguns casos na qualidade de atendimento na saúde pública e privada no Brasil, fazendo com que o paciente tenha diferentes experiências dentro destas duas redes. Porém, indo mais à fundo podemos também perceber diferentes tratamentos dentro da mesma clínica, rede ou plano, influenciados pela aparência, origem ou até mesmo sexualidade do paciente. O preconceito contra o que parece diferente e a desigualdade social afeta grupos sociais em todas as esferas, logo a saúde não ficaria de fora.

Quando analisamos dados, vemos que alguns grupos necessitam de mais cuidado do que outro e isso não é um problema, é uma questão de cuidado e humanização, por exemplo: A expressiva maioria das pessoas negras não possui plano de saúde (78,8% de acordo com PNS) Uma em cada quatro mulheres já foi vítima de violência obstétrica (pesquisa Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado) e no caso LGBTQIA+, A expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de apenas 35 anos.

Esses poucos dados, já justificam a importância de um olhar dedicado à humanização das Jornadas de Saúde, considerando a diversidade e inclusão como pilares. São comuns os casos de insatisfação, constrangimento ou preconceito vivenciados por grupos minoritários, desde o momento da contratação/busca pelo serviço ao contato com os médicos. Para pessoas trans, faltam profissionais dispostos a atendê-las e que possam entender seus problemas que vão além de uma simples doença, que tenham tato para falar com esse grupo socialmente marginalizado.

Homossexuais masculinos são frequentemente estigmatizados na doação de sangue e associados a ISTs, muitas vezes sendo proibidos de doarem sangue. Mulheres cis e homens trans têm um extremo risco de sofrerem violência obstetrícia. Pessoas portadoras de uma deficiência têm problemas no acesso físico a uma clínica ou hospital ou se deparam com sites e atendimento sem tradução para libras, por exemplo.

O que temos são problemas estruturais de longa data que estão se agravando com o passar do tempo. Então, como resolver estes desafios, respeitando os princípios éticos, morais e bioéticos de uma sociedade, que são os princípios da Beneficência, Não Maleficência, Autonomia, Justiça e Equidade? Podemos traçar um Plano de Ação com medidas possíveis, acessíveis e práticas para tentar preencher essa lacuna e dar a todos uma saúde acessível, de qualidade, que respeite as diferenças e não faça distinção.

Passo 1: Avaliação das Necessidades
Antes de mais nada é necessário um estudo aprofundado sobre os grupos minoritários presentes em nossa sociedade, entender suas necessidades específicas no âmbito da saúde, fazendo pesquisas de campo, coleta de dados, coleta de dados demográficos, pesquisa de qualidade para saber o ponto de vista destes grupos e o que poderia melhorar para que o atendimento fosse digno. Nesse passo deve-se haver uma parceria entre as unidades de saúde, os membros da área da saúde, médicos e pacientes para que haja uma construção colaborativa.

Passo 2: Desenvolvimento de Recursos Educativos

Deve partir principalmente do Estado juntamente com o SUS onde a maior parcela da população deve ser educada sobre as diferentes questões de sexualidade e gênero em nossa sociedade. Panfletos, guias, livros, vídeos explicativos e materiais que abordem questões de saúde LGBT, prevenção de Ists, saúde mental, acompanhamento psicológico, cuidados transgêneros, etc. Deve haver um treinamento sensível para cada profissional da saúde para que entendam e saibam lidar com os problemas de todas as parcelas da população, profissionais de saúde que pertençam e que saibam atender a comunidade LGBT dentro de suas particularidade e necessidades.

Passo 3: Apoio Psicossocial
Criação de grupos de apoio voltados para membros de grupos minoritários onde possam compartilhar suas vivências, estigmas, dores e superações, obtendo apoio e suporte de pessoas que façam parte do mesmo grupo social. Juntamente com isso, oferecer mais serviços de saúde mental, sejam psicólogos, psiquiatras ou terapeutas, todos estes de cunho social para aqueles que não possuem condições financeiras de pagar pelo atendimento à longo prazo.

Passo 4: Equidade aos Serviços
Deve-se criar políticas e programas que garantam que os serviços sejam acessíveis para todos, seja financeiramente ou geograficamente. Criar novas unidades de atendimento (Upa, Sus, Clínica da família, hospitais públicos) em locais de fácil acesso à estes grupos minoritários, próximo de suas moradias.

Passo 5: Avaliação e Acompanhamento
De nada adianta um plano de ação sem acompanhamento. É necessário garantir que o plano está sendo seguido e abrangendo os grupos que ele se propõe. Precisa-se de ajustes ao longo do tempo e feedbacks destes grupos minoritários. Deve haver um grupo dentro de cada centro de saúde ou unidade de atendimento que seja responsável por acompanhar seus pacientes, seja através de ligações ou mensagens. Um plano de ação é o começo de algo muito maior à longo prazo, que precisa de esforço, colaboração e vontade de todos os participantes. A colaboração com as comunidades afetadas é essencial para o sucesso desse plano e para assegurar que as soluções sejam culturalmente sensíveis e eficazes.

--

--

Vitor Amoroso

Amante da Sétima Arte. Professor de História e algumas outras coisas.